AMÉRICA : A CONSTRUÇÃO DE UMA NAÇÃO PARADOXAL
O intuito deste trabalho é resgatar a história da América Anglo-saxônica de forma ampla e consciente. Tentando subverter a idéia de que a origem do Estado norte-americano (contando aí EUA e Canadá ), tenha sido construído sem conflitos, sem derramamento de sangue , afastando com isso, possíveis xenofobismos e arbitrariedades que por ventura possam acontecer.
A colonização norte-americana , ocorreu de forma diferenciada das colonizações implantadas pelas nações ibéricas na América-Latina.No entanto, isso não significa que a forma inglesa de se colonizar foi mais amena.Durante o período de colonização não houve por parte do colonizador nenhum respeito em relação ao outro (colonizado).O que realmente prevaleceu foi o desprezo pela cultura nativa.
O que diferencia a colonização inglesa em relação a colonização ibérica é o fato dos ingleses terem um projeto de povoamento, onde se pretendia fazer habitação, plantação e construir uma nova vida. Em 1606, Jaime I ( rei da Inglaterra ), outorgou uma carta (Cartas Patentes) que dava concessão a alguns cavaleiros, cavalheiros, mercadores e outros aventureiros que por ventura quisessem investir na empreitada colonizatória.Em 1607, surgiu o primeiro povoado permanente na América do Norte, denominado Virginia.Outro tipo de argumento que foi utilizado para a implantação da colonização foi: a propagação religiosa, ou seja, levar o cristianismo as pessoas impuras e aos gentios para que os tirassem das Trevas. Jaime I, a-
través das Cartas Patentes dava plenos poderes aos requerentes, no entanto, isso não significava que a Inglaterra não tivesse controle da situação da colônia.A criação dos conselhos e a prova de que a Inglaterra concede, mas não perde de vista seus interesses.
Os primeiros colonos ao chegarem à América do Norte, sofreram inúmeros reveses, pois, as adversidades e as dificuldades eram inerentes a implantação de uma colônia. Se por um lado, o desconhecimento geográfico era um fator preponderante e crucial , por outro lado, o enfrentamento direto com os habitantes locais era inevitável. Por tais circunstâncias, muitas tentativas de colonização foram malogradas.O enfrentamento entre índios e europeus tornaram-se constantes e cada vez mais sangrentos.
A idéia europeizante e europocêntrica dos colonos ajudou a acentuar os conflitos. Na medida em que não se respeitava a cultura dos povos nativos. Portanto, o europeu não vê o índio como ser humano dotado de outros costumes e outros valores, viam-no como selvagens que necessitavam ser dilapidados e transformados de acordo com seus interesses “cristãos”. Esse processo de aculturação, torna-se evidente no filme: O Hábito Negro, quando a intolerância e a imposição dos missionários em relação as crenças indígenas chega a desqualificação cultural. No
entanto, são crenças milenares que sobreviveram a todos tipos de reveses e que de certa forma ajudaram o índio a entender o meio no qual estavam inseridos. É interessante salientar que, embora alguns índios (na sua maioria) não aceitassem a doutrina cristã muitos índios percorriam o caminho contrário, maravilhados com as facilidades tecnológicas e as “vantagens” que o escambo lhes trazia.Muitos missionários sofreram todos tipos de privações. Em o Hábito Negro, isso é muito claro. Os ataques indígenas eram constantes e muitos brancos e índios aculturados eram dizimados. Se por um lado , a história oficial, tenta nos mostrar um lado selvagem e por vezes cruel dos índios . Por outro, tenta esconder o genocídio perpetrado pelos europeus, dando com isso legitimidade aos massacres perpetrados pelos ingleses, fato que levava a concepção Maquiavélica ao pé da letra, ou seja, “ os fins justificam os meios”.Vemos no filme um processo de hostilização crescente dos índios em relação ao colonizador, no entanto, essa hostilização é muito maior quando afeta um dos pilares mestres da cultura indígena, ou seja , a sua religião.É muito difícil para o índio entender aspectos da religião cristã, visto que , apresentam-se “verdades” incontestáveis, além de relações entre Paraíso e Trevas e o próprio Deus cristão que se expressa através de uma escritura (bíblia). Para o índio os deuses são visíveis, por exemplo: sol; terra; sonhos; lua; animais entre outros. Então, fica a dúvida para o índio: Como acreditar num deus branco, se os nossos são visíveis e palpáveis, sendo que de certa forma resolvem e resolveram nossos problemas até hoje ? Questões mais complexas , no que se refere a propriedade da terra que os brancos insistem em inculcar no índio. Sem falar nas questões de valores , por exemplo: dinheiro, mercadoria, relações comerciais visando lucro etc... Tudo isso, coloca em xeque toda uma estrutura de pensamento calcado na crença e nos costumes indígenas. O que é mais interessante, é a dúvida que fica no ar: Não se sabe se a imposição cristã tinha objetivo concreto de desestabilizar uma sociedade que tem sua cultura calcada na religião (como é o caso dos índios), fazendo com que os índios perdessem com isso sua identidade. Ou se a imposição cristã tinha interesses puramente religiosos e “inocentemente” desestabilizou a cultura indígena? O que realmente podemos notar é um rompimento de paradigmas que para o índio tornou-se difícil assimilar.Isso não significa que o índio aceitou de bom grado a imposição cultural.
O EUA, desde de seus primórdios, enquanto nação é carregado de significados simbólicos , mitos e crenças. No filme: América , torna-se interessante essa visão. O filme é carregado de imagens que simbolizam a nação americana.O deserto é uma das imagens mais marcantes desse documentário, visto que, no inconsciente coletivo americano é idéia de deserto e nação andam juntas, contudo, ambos tem um sentido de começo e os ingleses da América tinham a concepção de que eram escolhidos por Deus para implantarem uma nova civilização, onde a idéia de igualdade e fraternidade estarão presentes. Atualmente, os EUA é um país marcado por contradições. Essas contradições estão presentes desde os tempos mais remotos de sua colonização. É um país que demonstra um poderio econômico incomparável, no entanto, no seio de sua sociedade existem pré-conceitos em relação aos índios, negros e estrangeiros que marcam sua história e que de certa forma , tenta-se escamotear esse lado negro sob a luz de uma “democracia”. Se por um lado, os EUA tentam demonstrar o seu lado “democrático” , por outro, não conseguem afastar a “mancha sangrenta” que foi a construção de sua nação.
Embriagados pelo desenvolvimento tecnológico americano, as outras nações do mundo se vêem extasiadas com os filmes, as músicas e o estilo de ser e de viver do americano. De certa forma, as cidades americanas como: New York, Chicago, San Francisco, Washington entre outras , com suas free ways , seus edifícios virtuais nos trazem um sentimento de inferioridade. A modernidade encontra nos EUA o seu refúgio, onde o movimento, a velocidade passam a ser a mola propulsora do capitalismo moderno.No entanto, é interessante salientar que, ao mesmo tempo que os ideiais burgueses são aclamados ( Igualdade, Liberdade e Felicidade), se tem na prática ações contrárias, como por exemplo: racismo, intransigência aos estrangeiros, contradições socio-econômicas. Concomitantemente é um país das oportunidades e sem fronteiras é um país que limita suas fronteiras aos estrangeiros.Enfim, analisar os EUA é mergulhar em suas contradições. Sem o entendimento prévio de suas contradições é impossível qualquer tipo de análise, seja do período colonial , seja do período atual .E, os EUA tem uma característica particular em relação aos outros países.É a tendência de se escamotear os fatos nefastos da história americana, dando-se a impressão que a história caminhou sem contradições e sem conflitos.
BIBLIOGRAFIA:
Syrett,H. C (org.) Documentos Históricos dos Estados Unidos, “A primeira carta da Virginia”
Mcluhan,T.C., Pés nus sobre a terra sagrada, Coleção
descobertas L&PM
Delumeau,Jean; Mil anos de Felicidade, uma história do paraiso, ed. Cia das Letras
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